segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Balada de Outono.Poema para Zeca Afonso

Uma noite um adeus sono vazio
águas das fontes choupos laranjais
as palavras levadas pelo rio
ó ribeiras chorai não mais não mais.

Ó ribeiras calai-vos anjo negro
cavaleiros vampiros rosa fria.
As palavras caíam no Mondego
era Outono e só ele se despedia.

Partir para Marrocos ou Turquia
embarcar na falua de Istambul
dobrar o cabo da melancolia
partir partir partir mais para o sul.

Ouve lá Zeca Afonso: e a cantoria?
- Preciso de partir para outro fado.
E havia em sua voz o que só havia
do outro lado.

Havia Bensafrim e a hospedaria
Um redondo vocábulo e um sino.
As bruxas. Mafarricos. Alquimia
para mudar o canto e o destino.

Por isso aquela noite sem saber
era outra a canção que lhe nascia.
Havia em sua voz uma estátua a arder
e Grândola era o país que não havia.

O calor de mais cinco e amizade.
S. Francisco de Assis: voz companheira
para levar aos pobres da cidade
uma canção à sombra da azinheira.

Poema de Manuel Alegre. Made in “Coimbra Nunca Vista” - 1995

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