"Entristeci enquanto olhava através da janela do meu quarto. Lá ao fundo, estava a igreja, o adro, e as casas que rodeavam o adro, mas eu não via esse desenho, eu apenas olhava na sua direcção. Se tocaram os sinos na torre da igreja, eu não os ouvi. Mais perto, por baixo da janela, estava a tapada. Isso é algo que sei agora, teoricamente, porque, na altura, eu não olhava sequer para a tapada, o meu olhar sobrevoava-a e lançava-se numa indefinição, explodia talvez. Eu tinha entristecido subitamente, mas parecia-me que tinha sido devagar. Tudo me parecia lento, as cores dissolviam-se umas nas outras, os sons entornavam-se uns para dentro dos outros. Não tinha nenhum motivo para a tristeza. Com meio raciocínio chegaria a essa conclusão, mas evitava-o porque não queria perder o sabor daquela tristeza branda, feita de sons e imagens que existiam num lugar muito distante, onde eu nunca tinha estado, mas que recordava, como a memória de todos os lugares que me esperavam. Alguns onde, agora, já fui, e todos aqueles onde ainda irei. "
Copiei este pequeno trecho do blogue do José Luis Peixoto.
Mas sou só eu que acho este tipo genial? Há muito tempo que não tinha tanto prazer em ler. Já tinha escrito isto antes? Ok. Peço desculpa, mas...o tipo é mesmo genial.
Um comentário:
Pessoalmente agrada-me, pois é mesmo de retratos manuscritos que gosto! Equivale a viajar em companhia do escritor e com ele ir revendo e revivendo recordações.
Abraço.
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